Erros são comuns no processo de crescimento de startups, mesmo entre fundadores bem-sucedidos. No entanto, algumas falhas podem comprometer o futuro do negócio e gerar prejuízos expressivos, inclusive para empreendedores considerados referências.Entre histórias de viradas estratégicas e casos de sucesso, um equívoco em especial tem sido recorrente entre líderes de empresas de alto crescimento — e seu impacto pode ser drástico para qualquer negócio.
O que você vai ler neste artigo:
Confundir cultura organizacional com afinidade pessoal
Um erro frequente entre fundadores milionários é contratar apenas com base em afinidades pessoais, projetando que bons relacionamentos automaticamente geram bons resultados. Essa abordagem falha ao ignorar que a diversidade de pensamento e a profissionalização são pilares fundamentais para a consolidação de uma empresa escalável.Conforme apontado por empreendedores ouvidos pela reportagem da Exame, muitos fundadores, no início da jornada, contratam amigos ou pessoas com valores semelhantes apenas porque "parecem encaixar na cultura". No entanto, esse modelo pode funcionar em uma fase embrionária, mas tende a ruir conforme o negócio exige expansão, liderança técnica e tomada de decisões mais complexas.Ou seja, a cultura organizacional deve ser construída não apenas em torno da empatia e da afinidade emocional, mas principalmente da competência, alinhamento de propósito e foco em resultados. Empresas com culturas robustas são aquelas que souberam equilibrar valores humanos, diversidade de perfis e excelência na entrega.Esse erro, inclusive, levou à saída de cofundadores em empresas como a 99 e a Gympass, que vivenciaram frustrações internas ao estruturar seus times com amigos ou conhecidos pessoais. A convivência amigável acabou dificultando momentos de cobrança, feedback e desenvolvimento profissional.
Falta de gestão e processos profissionais
Outro ponto levantado está relacionado à ausência de processos de gestão claros e bem definidos. À medida que a empresa cresce, é necessário adotar práticas estruturadas, com avaliações de desempenho, metas objetivas e métricas consistentes. Ignorar isso por apego a um modelo informal — muitas vezes sustentado por vínculos próximos — torna o ambiente disfuncional e impede a meritocracia de se consolidar.Fundadores como Alfredo Soares (cofundador da Vtex), Tallis Gomes (fundador da Easy Taxi), e Diego Barreto (diretor do iFood) relataram experiências em que precisaram romper relações pessoais para garantir a eficiência profissional. O custo emocional e financeiro dessas decisões, segundo eles, foi alto, mas necessário para enfrentar o crescimento e a transformação das empresas.Principais consequências do erro:
- Equipes pouco profissionais e resistentes a mudanças;
- Falta de autonomia real nas lideranças internas;
- Clima de trabalho informal que dificulta decisões impopulares;
- Risco de estagnação do negócio.
Saber o momento certo de sair — inclusive como fundador
Em alguns casos, o erro foi persistente ao ponto de o próprio fundador precisar se retirar da gestão. Isso se dá quando o apego à identidade original da empresa impede que ela se adapte ao mercado, crie estratégias mais ousadas ou profissionalize seu modelo.Em entrevista à Exame, alguns fundadores compartilham como deixaram a gestão diária justamente para evitar travar o avanço do negócio. Essa saída, muitas vezes vista como uma derrota, é na verdade uma escolha pragmática e estratégica.Reflexões comuns entre os fundadores:
- "Eu não era mais a melhor pessoa para liderar a próxima fase da empresa.”
- “Meu envolvimento estava gerando conflitos e atrasos.”
- “Foi só quando saí que a empresa pôde realmente crescer.”
A lição mais comum entre os erros
O erro de confundir cultura empresarial com amizade revela o quanto é fundamental separar vínculos pessoais das exigências estratégicas de uma empresa em expansão. A convivência em startups muitas vezes é intensa, mas a liderança precisa de disciplina, critérios técnicos e clareza em decisões difíceis.Portanto, aprender a nomear o problema, abrir espaço para perfis diferentes e adotar rotinas de gestão com metodologias claras são atitudes que fazem a diferença no longo prazo. Essa lição custou caro a vários fundadores, mas acabou moldando o sucesso de suas empresas em fases posteriores.
