A diferença entre salário e remuneração pode parecer sutil, mas tem impactos diretos sobre a folha de pagamento, os encargos trabalhistas e a gestão de pessoas dentro da empresa. Compreender esse conceito é imprescindível para evitar erros e garantir conformidade legal.
Enquanto o salário representa apenas a quantia fixa acertada no contrato, a remuneração abrange esse valor somado a quaisquer adicionais, comissões ou benefícios pagos ao colaborador, sejam eles recorrentes ou eventuais.
O que você vai ler neste artigo:
O que é salário
O salário é a base da contraprestação paga diretamente pelo empregador em troca do serviço prestado pelo trabalhador. Essa quantia deve estar registrada formalmente no contrato de trabalho e é, via de regra, fixa, com pagamentos mensais, quinzenais ou semanais, conforme determinado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Por lei, esse valor pode ser pago em dinheiro ou depósito bancário e deve respeitar o piso definido por convenções coletivas ou pela legislação, como o salário mínimo nacional. Essa quantia, chamada também de salário contratual, é utilizada como base nos cálculos de FGTS, INSS e Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF).
O salário pode ser estruturado de várias formas, de acordo com o tipo de vínculo ou a função desempenhada:
- Salário fixo: valor determinado mensalmente, sem vínculo com desempenho;
- Salário por hora: baseado nas horas efetivamente trabalhadas;
- Salário por tarefa ou produção: pago pela finalização de metas específicas;
- Salário comissionado: proporcional às vendas ou serviços;
- Salário misto: combinação entre valor fixo e variáveis como comissão.
A clareza sobre o conceito de salário é decisiva para o cumprimento das obrigações legais e representa a estrutura mínima de remuneração que o trabalhador deve receber.
O que é remuneração
Diferente do salário, a remuneração é um conceito abrangente. Nos termos do artigo 457 da CLT, ela compreende o salário base acrescido de outras verbas pagas ao trabalhador, como gratificações, comissões, adicionais legais ou não, e até mesmo gorjetas.
Além disso, a remuneração engloba valores pagos com habitualidade, mesmo que não previstos inicialmente em contrato. Isso inclui prêmios por produtividade, bônus de desempenho, horas extras habituais e outros acréscimos que tenham natureza salarial.
Na prática, essa diferença entre salário e remuneração é essencial porque amplia a base de cálculo de diversos encargos legais. Não reconhecer corretamente o que integra a remuneração pode acarretar erro no recolhimento de tributos e resultar em passivos trabalhistas.
Exemplos que compõem a remuneração:
- Comissões sobre vendas;
- Adicionais de insalubridade, periculosidade e noturno;
- Gratificações por tempo de serviço;
- Prêmios concedidos por resultados específicos;
- Gorjetas recebidas de clientes.
Conforme o artigo 458 da CLT, itens fornecidos como alimentação, habitação e vestuário podem ser considerados parte do salário — desde que concedidos com habitualidade e em razão do trabalho.
Principais diferenças entre salário e remuneração
A distinção entre os dois conceitos vai além de uma simples questão terminológica. Na gestão de pessoas e na área trabalhista, pode fazer toda a diferença para garantir segurança jurídica e conformidade fiscal.
Comparação prática
Aspecto | Salário | Remuneração |
Definição | Valor fixo acordado em contrato | Salário + demais parcelas de natureza salarial |
Base legal | Contrato individual de trabalho | Art. 457 e 458 da CLT |
Componentes | Valor fixo mensal | Comissões, gratificações, adicionais, bônus, gorjetas |
Impacto na folha | Base para encargos trabalhistas | Incide sobre encargos, férias, 13º, benefícios e tributos |
Alterações por desempenho | Não | Pode variar conforme metas e bonificações |
Entender claramente essa diferença permite otimizar políticas de remuneração, além de assegurar que a empresa pague corretamente seus encargos, evitando autos de infração e ações judiciais.
Implicações legais e fiscais
No Brasil, a maior parte dos tributos e contribuições laborais incide sobre a remuneração do empregado — não apenas sobre o salário base. Isso significa que qualquer pagamento feito regularmente e que seja considerado habitual pode compor a base de cálculo de:
- FGTS: recolhido mensalmente com base na remuneração total;
- INSS: calculado pelo salário de contribuição, incluindo os adicionais habituais;
- IRRF: incide sobre a base bruta de remuneração após deduções legais.
Um erro recorrente em empresas é considerar apenas o salário fixo na apuração dos encargos, deixando de lado parcelas variáveis, o que pode caracterizar recolhimento a menor e gerar autuações na fiscalização trabalhista.
Além disso, quando parcelas variáveis se tornam habituais e não são formalizadas corretamente, podem ser incorporadas de forma definitiva à remuneração, o que interfere em férias, aviso prévio, 13º salário e verbas rescisórias.
Boas práticas do RH para evitar erros
O setor de Recursos Humanos é o principal responsável por gerir corretamente a distinção entre salário e remuneração. Para evitar falhas na folha de pagamento e riscos trabalhistas, algumas condutas são altamente recomendadas:
- Auditoria regular da folha: verificação de todos os valores pagos e sua natureza (fixa, variada ou eventual), assegurando que tudo esteja enquadrado corretamente;
- Capacitação da equipe: treinamento contínuo sobre as atualizações da CLT e jurisprudências que impactam o cálculo da remuneração;
- Documentação clara: detalhamento preciso no contrato sobre salário, prêmios e possíveis variáveis, com política interna formal;
- Uso de tecnologia: adoção de softwares para gestão de pessoas que calculem encargos automaticamente, gerem relatórios e evitem erros manuais;
- Monitoramento da habitualidade: avaliação constante sobre pagamentos que passaram a ser recorrentes, como horas extras, e sua implicação no vínculo empregatício.
Essas ações garantem maior precisão nas obrigações legais, fortalecem a segurança jurídica da empresa e demonstram compromisso com uma política de remuneração justa.
Compreender a fundo a diferença entre salário e remuneração vai além do cumprimento da legislação. Trata-se de uma questão estratégica que impacta diretamente os custos da empresa, a satisfação dos colaboradores e a competitividade da organização no mercado de trabalho.
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