Em meio a decisões que impactam milhares de vidas e exigem responsabilidade estratégica, Marcela de Paiva se tornou uma das vozes mais influentes dentro de uma das maiores companhias aéreas do Brasil. A trajetória, no entanto, começou do zero, com uma vaga de estágio e muitos desafios.
Com uma sólida formação e ampla experiência em diferentes setores da economia, ela alcançou o conselho da Gol unindo técnica, escuta ativa e inteligência emocional. Hoje, representa não apenas uma liderança rara, mas uma referência em decisões conscientes no mundo corporativo.
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Infância em Minas Gerais e os primeiros exemplos
Criada em uma família numerosa em Belo Horizonte, Marcela cresceu cercada por exemplos inspiradores. O pai, executivo, e a mãe, incentivadora incansável, moldaram o senso de responsabilidade e coragem da jovem. Desde cedo, o incentivo ao estudo de idiomas e à busca constante por excelência estiveram presentes no cotidiano.
Esses pilares fizeram com que ela abraçasse oportunidades com ousadia e dedicação. A admiração pelo universo corporativo surgiu naturalmente, levando-a a investir em uma formação robusta em administração de empresas — um passo importante para entender os bastidores dos grandes negócios.
A influência familiar também contribuiu para sua confiança em ambientes predominantemente masculinos desde o início da carreira. O que para muitos poderia ser intimidador se transformou em motivação para crescer e ocupar espaços de liderança.
Ascensão do estágio ao conselho
A carreira de Marcela teve início na siderurgia, na Usiminas, ainda como estagiária. Apesar de jovem, ela rapidamente mostrou interesse por processos e números, atraindo olhares atentos. A primeira grande transição aconteceu quando passou a integrar a Mediphacos, referência nacional no setor de saúde ocular, especialmente na produção de lentes intraoculares.
Depois, migrou para o setor elétrico, integrando a Alupar, uma empresa atuante em geração e transmissão de energia. Lá, enfrentou obras complexas, sistemas robustos e processos de reestruturação internos — ambientes nos quais demonstrou sua capacidade analítica e resiliência. Participou inclusive da abertura de capital da companhia, vivenciando o rigor do mercado financeiro.
A transição do mundo executivo para o universo dos conselhos foi gradual. Começou ocupando cadeiras em conselhos fiscais até chegar a posições de administração. Com o tempo, assumiu assento no comitê de auditoria e, diante de crises relevantes, foi convidada a atuar no processo de reestruturação da dívida da empresa nos Estados Unidos. Hoje, ocupa um lugar de protagonismo duplo: é a única mulher no conselho da Gol e também a única brasileira no comitê internacional de reestruturação.
Os bastidores de uma conselheira
A atuação em conselhos não envolve decisões operacionais rotineiras, mas exige leitura técnica constante, visão de negócios e disposição emocional para sustentar posições difíceis. Reuniões se iniciam com ampla preparação: documentos, pareceres, indicadores financeiros e cenários geopolíticos são analisados em profundidade.
Marcela descreve esse ambiente como estratégico — e também solitário. O conselheiro precisa ponderar diversas perspectivas antes de opinar, com clareza e firmeza. Segundo ela, falar pouco e escutar mais é uma das chaves para o bom desempenho: “Mais ouvir do que falar, para captar diferentes visões antes de opinar”, afirma.
Entre as competências essenciais para esse papel, ela destaca:
- Escuta ativa, acima de tudo;
- Capacidade analíticacom visão de negócio e contexto global;
- Clareza e objetividade na comunicação;
- Tomada de decisão técnica e consciente, mesmo que impopular;
- Força emocionalpara sustentar ideias sob pressão;
- Humildade para reconhecer limitaçõese buscar respostas em equipe.
Essas habilidades, fundamentais no dia a dia, tornam o conselheiro uma figura de peso nas deliberações mais críticas das empresas.
Educação contínua como ferramenta estratégica
Com a responsabilidade de tomar decisões que envolvem tantos interesses e impactos, Marcela entendeu que era preciso atualizar e aprimorar seu repertório com frequência. Foi assim que chegou ao programa SEER, iniciativa da Exame e da Saint Paul School of Business.
Voltado para conselheiros, executivos e acionistas de alta liderança, o SEER oferece uma abordagem inovadora que explora a complexidade das decisões no mundo contemporâneo. Ele aborda não apenas aspectos técnicos, mas também subjetivos e comportamentais — como vieses cognitivos, ética, cultura organizacional e identidade.
Um dos destaques do programa é a experiência imersiva em Ouro Preto, Minas Gerais, onde os participantes analisam como a cultura brasileira pode ser um diferencial estratégico. Para Marcela, essa vivência provocou uma transformação profunda. “Você sai transformado”, afirma.
Além da técnica e da visão de mercado, o programa reforça o papel humano na liderança. Em tempos de mudanças rápidas, entender o comportamento e suas implicações nas decisões se torna um verdadeiro diferencial.
O que ainda impulsiona uma líder
Embora já tenha conquistado cargos e posições de destaque, Marcela não considera sua jornada encerrada. Sua motivação vem do desafio constante. “Eu sou minha maior rival”, resume, reafirmando o compromisso com o desenvolvimento pessoal e profissional.
Para ela, não existe um topo fixo — apenas novas etapas que surgem à medida que se avança. Composta por aprendizados, reestruturações e decisões disruptivas, sua trajetória continua a ser guiada por um propósito claro: evoluir sempre, sem jamais deixar de lado a consciência de cada escolha.
Mesmo diante de cenários complexos, Marcela continua demonstrando que é possível crescer com ética, constância e escuta. E como líder, sabe que as decisões que realmente transformam são aquelas sustentadas pela coragem de ouvir — e pela firmeza de agir.
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